SUP Arte: Vestindo a camisa


 

Campeao geral na categoria Surfboard Division da Battle of The Paddle Hawaii 2010, Hilton representa o Brasil no campo das artes e dos esportes. Foto: divulgação

Hoje, temos a grande satisfação de anunciar a estreia de Hilton Alves ao nosso quadro de colunistas. Atleta de Stand Up Paddle e artista plástico cuja obra, inspirada na temática dos oceanos e toda sua beleza, é referência quando o assunto é ilustrar a vida marinha e o surfe, Hilton, assina a coluna "SUP Arte" diretamente de Oahu, Havaí, onde reside desde 2007, para falar um pouco de sua história, suas obras e sua paixão pelo SUP. Seja bem-vindo Hilton! ALOHA!

SUP Arte: Vestindo a camisa

Por Hilton Alves (*)

Para começar esta nova coluna do SUPCLUB, primeiramente gostaria de agradecer ao Luciano e a todos os apaixonados pelo esporte pela oportunidade de estar dividindo minhas experiências do SUP e arte.

Então, vamos ao trabalho. Para quem não me conhece, aqui vai uma breve apresentação: sou artista plástico desde 2000. Comecei a pintar por mera curiosidade e por surfar desde moleque, a paixão pelo mar determinou minha trajetória na arte. Nascido em Santos, fui morar no Guarujá em 1990 e de lá só sai para vir para o Hawaii, onde moro atualmente.

No inicio de 2006, vi umas fotos do Laird Hamilton surfando de prancha e remo, o que na época era o inicio do stand up paddle e aquilo ficou na minha cabeça, pois queria incluir isso no meu repertório de esportes. Pesquisei, procurei por pranchas, remos e pude perceber que era impossível achar o equipamento no Brasil. Até que pouco tempo depois, vi o Jorge Pacelli e o Haroldo Ambrosio surgirem remando no canto esquerdo da praia do Tombo. Quando eles chegaram, foram à praia e começaram a jogar frescobol e eu pedi a gentileza de tentar remar com aquele barco... Sim, praticamente um barco, pois era uma 13 pés. O Haroldo ainda me explicou como remar e pediu para eu tomar cuidado pois o remo era do Tahiti (de madeira) e custava caro. Após algumas tentativas, consegui pegar umas ondinhas e assim como todo mundo hoje em dia, foi amor a primeira vista. Mas e ai, como seria o depois?

Em 2007, surfando na praia do Tombo, Guarujá. Foto: divulgação

Então, como sempre deixei minhas pranchas na casa do meu grande amigo Fabio Boturão ou simplesmente Jacui, localizada na praia do Tombo e lá se estacionava uma 9'6” bem antiga, feita praticamente para caras bem pesados, não tive duvidas a não ser pedir para que ele deixasse eu usá-la.

Ao colocar aquela prancha na água, imaginei que se eu conseguisse ficar em pé nela, sem estar na onda, 50% do meu objetivo estaria feito. E foi isso o que aconteceu após muitas tentativas.

Ai você me pergunta, "E o remo?"

Bom, ai que começa a ficar emocionante a história da primeira coluna do SUP Arte. Ao voltar de bicicleta pra casa, empolgado e inspirado a explorar este novo mundo, na minha cabeça só tinham perguntas e mais perguntas de como seria possível sair remando em pé naquilo e chegando em casa, ao abrir o portão, me deparei com uma coisa (e imagino que muitos vão me chamar de louco agora): uma enxada! Isso mesmo, uma enxada.

E o que isso tem a ver com o esporte?

Também concordo, não tem muito a ver, mas se você tirar a pá da enxada e utilizar a madeira do cabo, você já tem metade de um remo e foi isso que fiz mesmo contra a vontade do meu pai. Fiz uma pá (depois de ter uma ideia com o remo tahitiano) e na entrada que tem no cabo de enxada, na parte de baixo, coloquei esta pá com dois parafusos para segurar e fiz um pegador para a parte de cima. Estava feito o primeiro remo de madeira de stand up do Brasil. Pronto, nem dormi bem por causa da ansiedade de ir remar no dia seguinte, se é que você me entende e eu sei que sim.

Quando não existia remo de SUP, ele foi lá e fez o seu aproveitando o cabo de uma pá! Mais roots impossível. Foto: divulgação

Com isso, mudei toda a minha programação como artista plástico, pois remava durante o dia e passei a pintar os quadros na madrugada. Era difícil não ficar pelo menos 5 horas no mar, remando com minha enxada aquática que apelidaram de "remo do Duke Kahanamoku" e que por sinal ainda existe e esta guardado como relíquia na casa do Jacui, juntamente com a prancha. Poderia estar chovendo, frio, sol, mar agitado ou liso que com certeza você me encontraria no mar e acredite, era bem fácil identificar um único cara remando em pé na praia do Tombo naquela época.

Agora deixa eu te perguntar. Você tem sonhos, certo? Pois bem, eu também e foi com esta breve historia engraçada que visualizei os meus sonhos e hoje em dia ainda "remo" para concretizá-los. Desde o meu inicio no stand up paddle, eu tive a sensação que poderia representar uma camisa, uma cidade e um país e decidi investir minhas energias onde o esporte, na época, tinha o maior crescimento: o Hawaii.

Remo Troféu da Duke Ocean Fest 2010. Foto: divulgação

Adiantando a historia, em 2007 desci aqui na ilha de Oahu e com a ajuda do Todd Bradley, dono da C4 Waterman. Pude adquirir um remo de carbono e um longboard/SUP 10'6 e logo de cara participei do Dukes Ocean Fest, evento anual de paddleboard que se iniciava com a categoria SUP. Terminei na 5 colocação depois de remar 12 km e pude perceber que o Hawaii tinha algo especial a me oferecer e vice-versa. Desde então venho me dedicando a este esporte que mudou a minha vida, mudou a sua e mudará também a vida de quem você conhece no futuro.

Confira o vídeo da Duke's Ocean Fest 2007

Como artista inspirado nas belezas do mar tal como os esportes aquáticos, o stand up paddle já faz parte de minha coleção de pinturas desde 2006 e venho colhendo bons frutos por isso. Minha arte já estampou vários eventos importantes aqui no Hawaii, tal como troféus, remos e cartazes de competições. Tenho orgulho disso não só por estar vendo meu trabalho sendo reconhecido, mas por estar representando uma camisa, a nossa camisa verde-amarela e o carinho de todos vocês aqui na terra do Aloha.

Obrigado mais uma vez por estar lendo nossa coluna e ALOHA!

Hilton

(*) Hilton Alves é artista plástico e reside no Havaí desde 2007 onde realiza uma série de exposições de arte e trabalhos inspirados nas belezas do oceano. Patrocinado pela Art in Surf, Hilton também defende as cores do Brasil em importantes competições de Stand Up Paddle realizadas no arquipélago.  Para saber mais sobre seu trabalho, acesse: theartofhilton.com e surfartkidstour.blogspot.com.br

 

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