Aproximação perigosa


 
Uma das peças publicitárias que devem ser divulgadas pela Marinha nos próximos dias. Se a campanha não surtir efeito, ações mais rigorosas serão tomadas. Mas a pressão para evitar que remadores atravessem o canal e a obrigatoriedade do uso de coletes já começa a ser sentida. Foto: Divulgação
Vencedor da última etapa do circuito brasileiro e Top 3 do SUP race nacional, o santista Marinho Cavaco (ao centro, de verde) é favorável a medidas de segurança, mas não concorda com a obrigatoriedade do uso de colete salva-vidas, principalmente por conta do uso da cordinha, que já é por si só, um item de segurança. Foto: Angélica Evarista.
Em dezembro de 2012, a edição nº2 da revista FLUIR STAND UP, já alertava os remadores de SUP sobre o risco da aproximação de grandes embarcações. Foto: Reprodução.
  • Uma das peças publicitárias que devem ser divulgadas pela Marinha nos próximos dias. Se a campanha não surtir efeito, ações mais rigorosas serão tomadas. Mas a pressão para evitar que remadores atravessem o canal e a obrigatoriedade do uso de coletes já começa a ser sentida. Foto: Divulgação
  • Vencedor da última etapa do circuito brasileiro e Top 3 do SUP race nacional, o santista Marinho Cavaco (ao centro, de verde) é favorável a medidas de segurança, mas não concorda com a obrigatoriedade do uso de colete salva-vidas, principalmente por conta do uso da cordinha, que já é por si só, um item de segurança. Foto: Angélica Evarista.
  • Em dezembro de 2012, a edição nº2 da revista FLUIR STAND UP, já alertava os remadores de SUP sobre o risco da aproximação de grandes embarcações. Foto: Reprodução.

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Em notícia publicada neste domingo, 23, no jornal A Tribuna de Santos, a Capitania dos Portos de São Paulo informa que lançará em breve uma campanha com o intuito de conscientizar e coibir a aproximação que alguns remadores e condutores de pequenas embarcações fazem de grandes navios que trafegam pelo canal do porto.

De acordo com a reportagem, a Capitania tem recebido muitas reclamações por parte dos comandantes das grandes embarcações relatando casos envolvendo praticantes de stand up paddle remando extremamente perto dos navios. Essa versão, no entanto, contraria o que é afirmado por atletas de SUP, que afirmam nunca terem visto (ou feito) aproximações desse tipo, ao contrário de praticantes de esportes a remo como caiaque e surfski, por exemplo.

Mesmo assim, injusto ou não, de acordo com a reportagem, os infratores são identificados como remadores de SUP. “É algo inédito na Marinha do Brasil. Passamos a receber uma série de avisos formais sobre a aproximação dessas pranchas em relação aos navios”, conta o capitão-de-mar-e-guerra Ricardo Fernandes Gomes, comandante da Capitania dos Portos de São Paulo, à reportagem.

Gomes informa que se a campanha não surtir efeito, ações mais severas serão aplicadas com base no Artigo 261 do Código Penal, que prevê punição àquele que expõe ao perigo embarcação ou aeronave, própria ou alheia, ou praticar qualquer ato tendente a impedir ou dificultar navegação, fluvial ou aérea.

Em outras palavras, o infrator será multado ou "conduzido" à delegacia.

Na carona da polêmica está a tentativa de impor o uso de coletes salva vida a praticantes de stand up paddle. Algo que na prática, sobretudo quando se trata de remadores profissionais, mais experientes, pode inviabilizar um treinamento.

"NUNCA VÍ UM SUP, MAS JÁ VÍ VÁRIAS VEZES CAIAQUES FAZENDO ISSO"

Top 3 do SUP race nacional e profissional da canoa havaiana, o santista Marinho Cavaco treina diariamente nas imediações do canal do porto. Ele garante que já viu alguns abusos como os citados pela matéria do jornal, mas nunca praticados por remadores de SUP.

"A grande maioria das aproximações que vi foram feitas, na verdade, por praticantes de surfski e caiaque. Muitos se aproximam com o intuito de surfar as ondas criadas pelo movimento do navio. Já vi foto até no Facebook. Sinceramente, nunca vi ninguém de SUP fazer isso. Na verdade, acho que nem dá pra fazer. O cara iria cair da prancha e se matar, com certeza", conta o atleta.

Marinho, que em 2013 trouxe a medalha de bronze do SUP race profissional brasileiro para Santos, não recebe nenhum tipo de patrocínio ou apoio da cidade. Até conseguir um apoio da marca havaiana Kialoa, muitas vezes tinha que pagar para competir. Agora teme que uma nova barreira seja criada dificultando seus treinamentos. Ele vê a obrigatoriedade o uso de colete salva-vidas como desnecessária para um atleta profissional, pois atrapalha a remada de alta performance.

"Deve haver antes de tudo bom senso do praticante. Daqui a pouco vão querer obrigar todo surfista a usar colete. Não é por ai. Além disso, muita gente pensa que flutuador é a mesma coisa que colete salva vidas. Flutuadores são facilmente encontrados em lojas de artigos náuticos e usados por surfistas de Tow-in e não garantem à vítima desacordada ficar com o rosto voltado para cima. Se o cara que está usando um flutuador sofrer um mal súbito e cair de frente na água, vai morrer afogado do mesmo jeito, pois o flutuador não garante a rotação, ao contrário do colete. Só que, se remar de flutuador já limita bastante a sua performance no caso de um treinamento ou competição, remar de colete é praticamente impossível. Imagina um profissional usando aqueles coletes cor de laranja da Marinha, que envolvem o pescoço! Não tem como!", reflete o atleta, hoje um dos mais respeitados do Brasil na modalidade SUP Race. 

A edição nº2 da revista FLUIR STAND UP, em cuja redação também são produzidas as matérias do SUPCLUB.com.br, já alertava sobre os riscos que envolvem a prática do Stand Up Paddle próxima a navios de grande porte. Na época, a reportagem promoveu interessantes diálogos sobre questões de segurança e entre os consensos alcançados ficou claro que aproximações desse tipo não deveriam ser feitas, bem como o entendimento do uso da cordinha como único equipamento obrigatório de segurança.

Talvez por falta de conhecimento dos comandantes ou da própria reportagem que atribui somente ao SUP uma atividade que, na verdade, é muito mais praticada por remadores de surfski, caiaque e, em menor grau, por canoa havaiana, são os praticantes de Stand Up que ficarão sob os holofotes da Capitania.

Há cerca de duas semanas, um experiente competidor da cidade foi impedido por uma embarcação da marinha de atravessar o canal, pois não estava usando coletes salva-vidas. De nada adiantou mostrar que estava de cordinha, argumentar que tinha mais de dez anos de prática de esportes à remo e que estava no meio de um treinamento. Para não correr o risco de ser retirado à força da água, ele teve que dar meia volta em direção à praia.

Talvez um dos motivos pelos quais o SUP e os esportes outdoor de uma maneira geral fazem cada vez mais sucesso entre as pessoas, seja a reconexão com a natureza vivenciada por seus praticantes, uma experiência que muitas vezes é esquecida no corrido dia a dia das grandes cidades. Para muitos, essa experiência se traduz em uma palavra: Liberdade.

Restringir essa sensação de liberdade atravéz da imposição de uma série de regras e normas pode surtir efeitos imprevisíveis podendo até mesmo desacelerar um mercado em franco crescimento. Por isso e para evitar o pior, é importante que a galera do SUP se conscientize sobre os riscos desse tipo de atividade e também fique alerta quanto a abusos cometidos por praticantes de esporte a remo. 

É evidente que questões envolvendo segurança são importantes e devem ser debatidas, no entanto, a prancha de Stand Up já possui um dispositivo de segurança extremamente eficaz, que é o leash (ou cordinha), responsável por prender o remador à prancha, que nada mais é do que uma boia gigante. 

Riscos podem e devem ser controlados, mas de acordo com a experiência e o nível de cada um. Por isso, compete ao praticante e, no caso dos iniciantes, aos instrutores e às escolas, estabelecerem limites e acima de tudo ter bom senso. Algo que definitivamente não é usado por quem se aproxima de navio cargueiro em movimento sem autorização e o pior, pode agora punir com suas ações toda uma geração de atletas.

Para ler a reportagem do jornal A Tribuna na íntegra clique aqui.

 

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